“I” Work – dilemas remotamente híbridos de uma cultura presencial

Maria João CeitilManaging Director FranklinCovey PT | Head of Integrated Solutions Cegoc

Eis o dilema da “ordem do dia”: trabalho presencial, trabalho remoto ou trabalho híbrido? Na sua organização provavelmente esta é também uma reflexão presente em muitos debates, num momento em que aparentemente a pandemia se encontra controlada e muitas organizações estão a fazer movimentos de regresso ao escritório.

 

 

Mas será este o verdadeiro dilema que as organizações enfrentam? Ou será (aqui entre nós que ninguém nos ouve…) que este é o argumento mais fácil para mascarar um outro dilema bem mais profundo… o de respondermos à questão “estaremos mesmo preparados para tanta flexibilidade e para mudarmos efetivamente a forma de trabalhar”?

É verdade que as organizações e as pessoas de um modo geral se adaptaram bem ao teletrabalho e que não só viram as várias vantagens dele como constataram o aumento de produtividade, mas também as suas desvantagens, principalmente a nível do isolamento, relações socioprofissionais e dificuldade na promoção da cultura. É verdade também que, de acordo com a maior parte dos estudos mais recentes, as pessoas querem modelos híbridos e formas de trabalho mais flexíveis.

Questionamo-nos então o motivo de o trabalho híbrido ser hoje um dilema. Não seria esta a melhor forma de otimizar todas as vantagens do trabalho remoto e reduzir o impacto das suas desvantagens, recorrendo aos momentos presenciais para evitar o isolamento e promover a proximidade e a cultura das organizações? Não pareceria esta a solução ideal numa lógica “ganhar-ganhar” para as organizações e para os colaboradores?

A questão é que as premissas anteriores podem ser verdade, mas também é verdade que as organizações foram obrigadas a implementar o teletrabalho e mostra-nos a história da humanidade que “o que tem de ser tem muita força”. Esta não seria provavelmente a escolha de muitas organizações e sabemos que apesar de o trabalho remoto constituir uma tendência e um desejo de muitas pessoas antes da pandemia existiam ainda muitas resistências na sua aplicação e não era uma opção considerada em muitas organizações.

 

Teletrabalho vs trabalho remoto

Não nos podemos esquecer que o que foi efetivamente implementado numa grande maioria dos casos foi o teletrabalho, e não o trabalho remoto. São várias as diferenças entre estes dois conceitos, mas a principal encontra-se no mindset. O teletrabalho não traduz mudanças significativas ao modelo de trabalho “tradicional”, que pressupõe uma posição fixa para os colaboradores, que realizam as suas tarefas sob uma supervisão direta de um superior hierárquico, mudando apenas o local de trabalho. Para falarmos em trabalho remoto precisamos de falar de uma forma diferente de trabalhar, assente em resultados e não em tarefas, e em autonomia e não supervisão.

Este é o momento de pormos à prova se realmente aprendemos alguma coisa com tudo o que passámos nos últimos tempos e se estamos mesmo preparados para mudarmos o mindset com que encaramos o trabalho. É o momento de não nos escudarmos em argumentários coerentes mas irrealistas como por exemplo “é complicado gerir reuniões com pessoas presentes e outras ausentes” ou “e se lhes der liberdade a mais deixam de produzir”. A história recente já nos provou que conseguimos ajustar as ferramentas de trabalho a diferentes condições e já nos mostrou que as pessoas não nos desiludem quando confiamos nelas.

Este é o momento de vermos se estamos mesmo preparados para o futuro do trabalho, um futuro “I” Work. “I” work no sentido de trabalho inteligente, mas acima de tudo na tradução literal… “Eu trabalho”… onde, quando e como for.

 

*Este artigo foi publicado originalmente na revistaHuman Resources Portugal.

Escrito por

Maria João Ceitil

Detentora de uma vasta experiência como Consultora e Formadora nos domínios de Gestão de Recursos Humanos, Gestão da Performance Organizacional e Executive Coach.

Ao nível da formação superior, possui um Mestrado Integrado em Psicologia Clínica pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), um Mestrado em Gestão do Potencial Humano pelo Instituto Superior de Gestão (ISEG) e uma Pós-Graduação em Gestão dos Recursos Humanos, na Perspectiva da Gestão com as Pessoas, pela Universidade Lusófona.

Possui também diversas certificações e formações, nomeadamente a Certificação em Executive Coaching pela Escola Europeia de Coaching de Lisboa, a certificação em Dynamic Coaching pela Go4 Consulting e a Formação Pedagógica Inicial de Formadores pela CEGOC.

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