Agilmente digitais… competências “pandémicas”

Maria João CeitilManaging Director FranklinCovey PT | Head of Integrated Solutions Cegoc

Ser digital implica desenvolver um novo mindset estratégico e cultural de automatização de processos e de “pensar” digital. Ser ágil e ser digital são hoje duas das competências mais debatidas, requeridas e desejadas no contexto económico e mercado de trabalho. Sejamos claros… já o eram antes da crise pandémica que vivemos… agora, simplesmente tornaram-se imperativas.

São há muito palavras da “moda”, buzzwords que ouvimos repetidamente e que fazem já parte do léxico organizacional. Mas no momento atual, fortemente marcado pela emergência do trabalho remoto, passaram finalmente do “léxico” para a “realidade operacional” das organizações. E isto porque o sucesso do trabalho remoto subsiste na existência destas duas competências.

 

 

É importante antes de mais estabelecer a distinção entre o que é o teletrabalho e o trabalho remoto, que não são, de todo, a mesma coisa. Falar em teletrabalho é falar na mera deslocalização do trabalho de um local para outro; é fazer exatamente o mesmo, seguir os mesmos processos, realizar as mesmas tarefas, com o mesmo tipo de supervisão hierárquica, mas fazê-lo em casa, ou noutro local que não o habitual escritório ou posto de trabalho.

 

Falar em trabalho remoto é falar de dinâmicas de trabalho completamente diferentes.

 

Falar em trabalho remoto é falar em trabalho inteligente (o agora também muito referido smart working), e trabalho ágil. É uma dinâmica de trabalho que implica maior flexibilidade de local de trabalho, mas também de horários de trabalho, de formas de trabalho e de gestão de resultados. É uma maneira de trabalhar na qual uma organização permite que as pessoas trabalhem onde, quando e como escolherem, com o máximo de flexibilidade e restrições mínimas. E este tipo de trabalho exige, quase obrigatoriamente, uma forte agilidade das organizações, das lideranças e das pessoas, e exige, obrigatoriamente, fortes competências digitais. Ser digital não passa apenas (não passa de todo!) por saber utilizar ferramentas tecnológicas ou disponibilizá-las aos colaboradores e formá-los no seu uso; diria que essa é a parte mais fácil do “ser digital”. Ser digital implica desenvolver um novo mindset estratégico e cultural de automatização de processos e de “pensar” digital.

E isto implica pensar diferente… implica pensar “na nuvem”, reformular todos os processos para garantir que a informação necessária está disponível a todos, estejam onde estiverem, garantindo a segurança da informação, dos dados, mas assegurando que estão documentados os processos de trabalho. Implica repensar a customer experience e a employee experience para um ambiente remoto, assegurar que a cultura da organização não é impactada pela distância física, e que os laços emocionais e as experiências vividas são tão, ou mais, impactantes do que eram. E implica a simplificação dos processos, uma gestão muito mais orientada ao resultado, aos outputs a produzir, e muito menos às tarefas a realizar. E não é por acaso que vemos, tantas vezes, andar “de mãos dadas” a agilidade e o digital. Ser ágil é adotar praticas que assentam na transparência, adaptabilidade, simplicidade e união. Ser ágil é quebrar estereótipos, é focar no resultado final, na satisfação do cliente (seja externo ou interno), e não ficar agarrado ao processo, mas usar o processo para atingir o objetivo.

 

Se o processo não dá resposta que se mude o processo, mas não se mude o resultado.

 

Ser ágil é desburocratizar, simplificar os processos de trabalho, minimizar os desperdícios, é focar no que efetivamente traz valor acrescentado para os nossos clientes, os nossos parceiros, as nossas pessoas. É ter sempre o “fim em mente”, mas também é promover união, confiar nas pessoas, dar-lhes autonomia, mas também responsabilidade. É ser transparente na informação, na comunicação, e ser capaz de ajustar e adaptar o que fazemos e como fazemos, e garantir que as nossas equipas estão envolvidas, comprometidas, e felizes.

Muitas serão certamente as barreiras que temos a superar, desde barreiras tecnológicas, sociais, culturais e mesmo legislativas para que o trabalho remoto se torne, de facto, uma realidade profícua, eficaz e de elevado valor acrescentado para as organizações, mas uma coisa é certa, não o conseguiremos fazer se não formos agilmente digitais… e digitalmente ágeis!

 

*Este artigo foi publicado originalmente na revista Pessoas by ECO.

Escrito por

Maria João Ceitil

Detentora de uma vasta experiência como Consultora e Formadora nos domínios de Gestão de Recursos Humanos, Gestão da Performance Organizacional e Executive Coach.

Ao nível da formação superior, possui um Mestrado Integrado em Psicologia Clínica pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), um Mestrado em Gestão do Potencial Humano pelo Instituto Superior de Gestão (ISEG) e uma Pós-Graduação em Gestão dos Recursos Humanos, na Perspectiva da Gestão com as Pessoas, pela Universidade Lusófona.

Possui também diversas certificações e formações, nomeadamente a Certificação em Executive Coaching pela Escola Europeia de Coaching de Lisboa, a certificação em Dynamic Coaching pela Go4 Consulting e a Formação Pedagógica Inicial de Formadores pela CEGOC.

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