"Agile: uma maneira de estar e de pensar"

Maria João CeitilManaging Director FranklinCovey PT | Head of Integrated Solutions Cegoc

Os profissionais de recursos humanos foram os primeiros a serem chamados a agir e a tomar decisões quando chegou a pandemia. Se até há pouco tempo se questionava a utilidade destes profissionais, hoje é claro que são fundamentais, principalmente em períodos de crise. Leia a entrevista de Maria João Ceitil, HR Consulting Coordinator da CEGOC, à RH Magazine e descubra como "a agilidade é, sem dúvida, uma 'arma' importante na 'batalha' que enfrentamos."

 

 

– Com a crise da Covid-19, as empresas que aplicam metodologias agile estão mais preparadas para superar os desafios ou encontrar soluções para os problemas com que se possam estar a debater?

A situação que vivemos hoje é totalmente única e inesperada, e é certamente difícil conseguir neste momento fazer afirmações tácitas sobre quem está melhor ou pior preparado para superar todos os desafios que enfrentamos. A quantidade de variáveis que afetam a dinâmica e performance das organizações é de tal ordem que limitar a análise do sucesso de qualquer organização na superação da situação que vivemos à visão exclusiva da agilidade organizacional será, no mínimo, redutor e poderá induzir a reflexões erróneas. O que sabemos, de facto, é que o recurso a metodologias ágeis promove resultados que poderão ser extremamente úteis na resposta à mudança drástica que estamos a viver, dotando as organizações de mais flexibilidade, capacidade de resposta rápida e de adaptação constante a novas exigências. Por esse motivo acreditamos que, não sendo a única “fórmula mágica” para enfrentar os desafios de hoje, a agilidade é, sem dúvida, uma “arma” importante na “batalha” que enfrentamos.

 

– De que forma a gestão de pessoas pode tirar partido destas metodologias?  

A corrente ágil tem vindo a ganhar uma importância e preponderância cada vez maior na mudança de paradigmas e práticas de gestão de um modo geral. E na gestão de pessoas não é diferente. Verifica-se uma grande tendência à adoção das metodologias ágeis na função RH, e muito se pode tirar partido disso, começando logo pela agilização e desburocratização dos processos e da forma de atuar na Gestão de Pessoas. Começando pela simplificação dos processos de gestão da formação, da gestão de desempenho, recrutamento e gestão de talentos, até à forma como é pensada e estruturada toda a “Employee Experience”, a Gestão de Pessoas poderá encontrar nas metodologias ágeis soluções para promover um maior valor acrescentado ao seu “cliente”, e promover resultados mais rápidos, com equipas mais envolvidas e altamente produtivas.

 

– Diz que mais do que uma metodologia, esta é uma "maneira de pensar". Porquê?

Quando falamos em agile, na CEGOC, falamos precisamente de uma maneira de estar e pensar. E foi precisamente assim que o agile surgiu. Falar em agile não se trata de falar em Scrum, ou Kanban, ou outras metodologias que são desenvolvidas com base neste mindset. Falar em agile é falar em pôr em prática os quatro valores fundamentais que sustentam o manifesto ágil: a transparência, a união, a adaptabilidade e a simplicidade, bem como aplicar os 12 princípios que regem o pensamento ágil, também presentes no manifesto. E estes são os fundamentos da agilidade; podem-se desenvolver diversas metodologias, aplicar diferentes práticas, recorrer às que já existem ou inovar e criar novas práticas, mas o que verdadeiramente tem impacto é a forma como estes valores são vividos, sentidos e implementados nas organizações.

 

– Da teoria à prática, o que é essencial para que as organizações depois de aprenderem as metodologias se tornem efetivamente ágeis? É um processo simples ou nem por isso?

Diríamos que o processo deverá, idealmente, começar pela adoção do mindset agile e incorporação dos valores e princípios subjacentes. A partir do momento em que as organizações integrem a importância da transparência em todos os processos, decisões e forma de atuar com as pessoas; promovam a união estimulando equipas, projetos e estruturas multidisciplinares, que comunicam eficazmente e partilham feedback sem reservas; desenvolvam competências e formas de trabalhar capazes de se adaptarem e acolherem a mudança como algo positivo e aquilo que impulsiona a inovação; e procurem simplificar os seus processos, desburocratizar a atividade e focar no que traz efetivo valor acrescentado… estarão no bom caminho da agilidade. A partir daqui será simples, e bastará encontrar as metodologias existentes que melhor servem a implementação destes valores na cultura e dinâmica única e exclusiva de cada organização.


– Que tipo de organizações têm estado mais empenhadas e mostrado mais interesse em adquirir e desenvolver métodos agile?

O movimento agile teve origem no setor tecnológico, mais propriamente na área de desenvolvimento de softwares, pelo que este é, por inerência, o “habitat” natural das organizações ágeis. Mas não é sem dúvida, o único “habitat” da agilidade. Observamos cada vez mais organizações de média e grande dimensão a procurar a adotar o mindset agile e incorporar as metodologias ágeis nos seus processos de gestão e dinâmica organizacional. É um movimento evolutivo e que se tem vindo a expandir um pouco por todos os setores de atividade, sendo ainda mais expressivo, em Portugal, nos setores da tecnologia e serviços (de um modo geral). Organizações com estruturas organizacionais muito hierarquizadas e modelos de gestão Top Down poderão encontrar algumas dificuldades na adoção dos valores agile, na medida em que estes promovem uma autonomia elevada e grande flexibilidade nos processos de gestão, mas… será sempre possível transitar da “insustentável leveza da rigidez” para a “insuperável firmeza da vontade”.

 

*Esta entrevista foi publicada originalmente na RH Magazine.

Escrito por

Maria João Ceitil

Detentora de uma vasta experiência como Consultora e Formadora nos domínios de Gestão de Recursos Humanos, Gestão da Performance Organizacional e Executive Coach.

Ao nível da formação superior, possui um Mestrado Integrado em Psicologia Clínica pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), um Mestrado em Gestão do Potencial Humano pelo Instituto Superior de Gestão (ISEG) e uma Pós-Graduação em Gestão dos Recursos Humanos, na Perspectiva da Gestão com as Pessoas, pela Universidade Lusófona.

Possui também diversas certificações e formações, nomeadamente a Certificação em Executive Coaching pela Escola Europeia de Coaching de Lisboa, a certificação em Dynamic Coaching pela Go4 Consulting e a Formação Pedagógica Inicial de Formadores pela CEGOC.

Saiba mais