3 Táticas para enfrentar o medo

Ricardo MartinsCEO na CEGOC

Todos sabemos que o medo é eficaz a conseguir com que as coisas aconteçam. Os marketeers há muito que conhecem o poder do medo, usando-o para vender este mundo e o outro – desde seguros de vida, a sistemas de alarme, a cereais sem açúcar que sabem a alcatifa entre muitas outras panaceias para nos salvar a vida. A verdade é que perante um cenário de tragédia eminente, desde que os níveis de stress sejam suficientemente elevados, todos nós somos capazes de cometer algumas loucuras.

 

 

Tendo em conta a situação pandémica e de eminente declínio económico que se perspetiva à escala global, é de admitir que um nível crescente de medo se esteja a instalar nas nossas Organizações e que isso vai, inevitavelmente, acionar um conjunto de mecanismos com efeitos colaterais nocivos que impactam dramaticamente a produtividade das pessoas e a performance geral das equipas.

O medo é, em si mesmo, um meio nutritivo para se instalarem a dúvida e a incerteza, o que por sua vez, quando prolongadas no tempo, mata a criatividade, a motivação e, entre outras coisas mais, a predisposição para inovar. Quando confrontada com uma ameaça – real ou imaginária – a amígdala, uma estrutura do cérebro integrada no sistema límbico e responsável pela libertação de hormonas de stress, entra em ação, dando-nos um impulso de energia extra e aumentando a nossa força física, causando pelo caminho e em simultâneo uma série de alterações fisiológicas como o aumento do ritmo cardíaco, respiração acelerada e tensão muscular, tudo com vista a permitir-nos escapar a situações de risco ou perigo iminente.

Esta adaptação evolutiva do nosso cérebro profundo foi concebida para aperfeiçoar a nossa resposta a ameaças imediatas, mas não tanto para estados de alerta prolongados no tempo. Se esta preocupação pandémica se prolongar por semanas e meses a fio, é de esperar que um stress crónico como este, venha a consumir muita da nossa energia e acabe por minar seriamente a qualidade do nosso sono, reduzindo ainda mais os nossos níveis de energia vital. O stress induzido pelo medo é, aliás, um dos principais fatores promotores de burnout e respetivas sensações de cansaço e esgotamento.

 

O que podemos fazer como líderes?

Em circunstâncias como as atuais o pior que um Líder pode fazer é deixar os seus stakeholders a terem que conviver com o caos, a desordem, a indecisão ou indiferença. É numa altura como esta que as Organizações mais precisam das suas pessoas – e que estas possam acreditar nas suas lideranças, sendo que esta fé é muitas vezes posta em causa precisamente nestes momentos.

Usar do medo para pôr as suas pessoas em “sentido” e prontas para “o combate” durante uma crise como esta até pode parecer uma boa ideia para alguns. Afinal “acordá-los para o perigo” fará com que se foquem no que é realmente importante para ultrapassar este desafio. Atenção! É preciso também entender que este espírito combativo, quando evocado essencialmente com base no medo e não pela inspiração e sentido do propósito coletivo, tende a ser sol de pouca dura e, em vez de ser canalizado para os desafios a enfrentar pode, na verdade, acabar por virar o feitiço contra o feiticeiro.

Partilho por isso três táticas que poderão ser úteis para conduzir as suas equipas e as suas ações durante as próximas semanas, se não meses.

 

1 - Evite colocar paninhos quentes sobre a realidade.

Em tempos difíceis, é mais importante do que nunca ser honesto e transparente. Por outras palavras: não procure dourar a pastilha para amortecer o golpe. Deixe que as pessoas saibam em tempo útil a real situação da empresa e do mercado. Uma forma de ajudar a sua equipa a enfrentar o medo passa por enquadrar as pessoas, com frequência e honestidade, sobre as iniciativas tomadas para mitigar riscos e, acima de tudo, usar uma linguagem clara para explicar os comportamentos em que todos devem concentrar os seus esforços, com vista a criar um ambiente tranquilizador junto dos clientes.


2 - Invista na criação de um Espaço Seguro

Se há lição que aprendi com aqueles que no passado me lideraram com sucesso durante a última crise global foi o seu compromisso férreo com os compromissos, propósito e valores fundamentais da Organização sem resvalar para o facilitismo de culpabilizar outros pelo que nos estava a acontecer.
Deixe que os seus colaboradores saibam que quer ouvir a sua opinião e diga-lhes de forma clara que aceita de bom grado toda a ajuda e boas ideias que possam ter para ajudar a ultrapassar esta fase.
Encoraje o debate sobre formas de melhorar o serviço, encontrar novos negócios ou melhorar processos, mesmo que isso possa “abanar” algumas crenças estabelecidas. Quando os colaboradores sabem que os seus líderes estão dispostos a testar novas estratégias para ultrapassar os tempos difíceis e os encorajam a contribuir para essa missão, isso gera um nível acrescido de compromisso o que propicia um estado de maior otimismo entre as equipas e uma cultura de maior confiança na Organização.

 

3 - Use e abuse da Gratidão.

É nos piores momentos que devemos enaltecer e reconhecer cada vitória e passo dado na direção desejada. Vários estudos revelam que as organizações que apresentaram melhor desempenho durante épocas de recessão, demonstram uma propensão  significativamente superior em mostrar gratidão aos colaboradores pelos seus esforços do que organizações que tiveram desempenhos fracos ou medíocres.
A capacidade aparentemente difusa, mas calorosa de agradecer publicamente e com autenticidade aos colaboradores pelo que estão a fazer neste momento pela Organização, tangibiliza o valor que trazem e instala uma sensação de esperança e partilhaque contagia positivamente as suas equipas e, em última instância, o resto da Organização.

 

Procurando ajudar a responder a alguns dos desafios mencionados anteriormente, recordo que a nossa oferta KEEP CALM & START LEARNING continua a dar a acesso gratuito a um conjunto de recursos digitais e webinares sobre temas de grande utilidade no momento atual, acessíveis através da nossa plataforma Learning Hub, e que têm sido acolhidos com enorme sucesso. Esta semana apresentamos 4 novos temas:

  • Lidar com o medo e a ansiedade nos contextos mais desafiantes
  • Mindfulness: “alinhar” corpo, mente e emoções para enfrentar novos contextos
  • Implicações nos contratos de trabalho e medidas excecionais no contexto da crise do COVID-19
  • Reinventar a atividade comercial e gerar valor para os clientes no contexto COVID-19

 

Conheça ainda a seleção criteriosa de percursos de aprendizagem 100% digitais READY2GO DIGITAL, que desenhamos para dotar pessoas e organizações de competências críticas para enfrentar com resiliência as adversidades e desafios impostos pelo contexto atual.

 

Por fim, junte-se já a partir de amanhã, a Líderes e Gestores das principais empresas de Itália, Espanha e Portugal para partilhar ideias e boas práticas para alcançar resultados mais positivos num contexto de imprevisibilidade extrema e retomar a confiança, já e no pós-COVID-19, através do ciclo de palestras e workshops online ACHIEVING RESULTS IN UNPREDICTABLE TIMES. Exclusivo para clientes e parceiros CEGOC, este ciclo conta com a participação de Stephen M. R. Covey, Kory Kogon, Chris McChesney e Victoria Roos-Olsson, principais thought leaders globais da FranklinCovey.

Continue a acompanhar as nossas iniciativas e aproveite-as para superar o contexto atual e preparar-se melhor para o Mundo Novo que aí vem.

Escrito por

Ricardo Martins

Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia do Porto e formado em Gestão e Marketing pelo INSEAD, Ricardo Martins soma no seu currículo uma experiência nacional e internacional de mais de 20 anos nas áreas de consultoria, formação e desenvolvimento profissional. Depois de integrar a Global Team International Marketing Consultants, onde trabalhou na implementação de projetos de Marketing Operacional aplicados a empresas de renome como a Coca-cola, Heineken, P&G ocupa atualmente o cargo de Diretor Geral da CEGOC em Portugal. A CEGOC integra o Grupo CEGOS, líder internacional na área de Learning & Development, com quase um século de experiência e presença ativa em mais de 50 países.
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