O que os filmes nomeados aos Óscares nos ensinam sobre: Gestão de Talento

Maria João CeitilManaging Director FranklinCovey PT | Head of Integrated Solutions Cegoc

Já reparou que faltam apenas quatro semanas para a grande cerimónia de entrega dos Óscares? Para assinalar este acontecimento que prende meio mundo ao sofá, a CEGOC vai lançar também quatro artigos que traçam um curioso paralelismo entre as temáticas abordadas nos filmes nomeados à Categoria de Melhor Filme e algumas temáticas do vasto universo dos Recursos Humanos.

“Assim nasce uma rapsódia (pouco boémia) de estrelas”

rap·só·di·a
(grego rapsodía, -as, recitação de poema épico)
substantivo feminino
1. Fragmentos de cantos épicos, entre os gregos.
2. [Por extensão] Trecho de uma composição poética.
3. [Música] Composição musical formada por vários cantos tradicionais ou populares.
4. [Música] Peça musical formada por fragmentos de outras obras.

"rapsódia", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

Quantas vezes se depara, enquanto gestor(a), com questões como: “onde estão os meus talentos, como sei quem são e onde os encontro? como os desenvolvo? Como os manter com elevada performance?”

A gestão de talentos é um dos maiores e mais difíceis desafios dos gestores de um modo geral e, em particular, dos gestores de Recursos Humanos. Muitos e variados são os modelos que estudam e analisam esta temática e, como em quase todas os grandes temas da atualidade, nem sempre convergem nas respostas que fornecem as questões anteriores, nem mesmo no próprio conceito do que é o “talento”.

Hoje focamo-nos neste conceito na sua perspetiva mais tradicional, do talento individual, o “high performer”, o indivíduo de elevado potencial. Nesta perspetiva, o próprio conceito de talento remete para um tal “ser” extraordinário, dotado de competências fora do normal, que produz resultados verdadeiramente fantásticos.

Este ano, as nomeações para os Óscares brindam-nos com 2 filmes que muito nos podem ensinar sobre talentos. “Assim Nasce uma Estrela” e “Bohemian Rapsody” retratam a luta, dedicação e obstáculos de artistas na ascensão ao estrelato, e todos os desafios que enfrentam nesse caminho.

E como nos podem ajudar estes dois filmes a responder às questões com que nos debatemos diariamente?

Eis a nossa sugestão:

“Onde estão os meus talentos, como sei quem são e onde os encontro?”

Olhando para as mensagens que os filmes transmitem, uma coisa parece clara: O verdadeiro talento acaba sempre por se fazer notar”. Os indivíduos com talento excecional sobressaem dos restantes indivíduos. Em “Bohemian Rhapsody”, assistimos a um Freddy Mercury dotado de uma voz única, aliada a uma presença de palco excêntrica – caraterísticas fora do comum que desde cedo se fazem notar não só pelo próprio, como também por outros. O mesmo acontece com Ally ("Assim Nasce uma Estrela"), em que a sua voz e atuação chamaram imediatamente a atenção de Jackson, um cantor experiente.

Mas, curiosamente (ou talvez não), em ambos os filmes estes dotes são identificados em situações completamente casuísticas, e não através de uma ação pensada e planeada. À semelhança do que acontece nestes filmes, também a sua organização provavelmente estará repleta de “estrelas”, apenas à espera que alguém olhe para elas e lhes dê espaço e oportunidade para mostrarem os seus dons.

Trailer "Bohemian Rhapsody"

Como os desenvolvo?

Desenvolver talentos não é uma tarefa fácil. Do que nos é possível reter destes dois filmes, parece ser de extrema importância criar uma rede de suporte, apoio e estratégias delineadas para desenvolver os talentos. A melhor estratégia para desenvolver um talento é desenvolver uma equipa de talentos. Quando Freddy decidiu seguir uma carreira a solo, as coisas não correram da melhor maneira… Também vemos que uma banda, uma família ou uma relação (como em "Assim Nasce uma Estrela") podem funcionar como uma verdadeira equipa. E nem estrelas como Freddy Mercury ou Ally iriam longe sem a equipa de manager, bailarinos, e a banda que os apoiam.

Isto porque, por mais talentoso e dotado que um indivíduo seja, dificilmente terá em si todas as competências necessárias para produzir resultados elevados em todas as áreas, por isso precisa certamente de uma equipa de talentos ao seu redor, para criar a “banda” de sonho.

Como os manter com elevada performance?

Se desenvolver talentos não é uma tarefa fácil, ser talento não lhe fica atrás. Por um lado, parece existir uma dimensão intrapessoal crucial nas “estrelas”: Os grandes talentos nunca deixam de acreditar no seu potencial. Mesmo à revelia da família, Freddy sempre soube que tinha nascido para cantar. Também Ally nunca desistiu do seu sonho de ser artista enquanto trabalhava como empregada de mesa durante a semana e cantava num bar ao fim de semana. Os indivíduos com talento lutam pelos seus sonhos com todas as suas energias, com muito trabalho, sacrifício, foco, entrega e determinação.

Por outro, o sucesso e a fama, nem sempre são fáceis de gerir. É necessário um grande equilíbrio emocional para conseguir lidar com a fama, com o prestígio e com a exposição que o talento e o consequente sucesso acarretam. Uma fase menos boa ou a presença de más influências são suficientes para abalar o status adquirido e colocar em causa todo o bom trabalho realizado até então, como mostram os dois filmes.

Se queremos manter os nossos talentos com resultados elevados, é importante saber “cuidar” deles, acompanhar a sua motivação, apoiá-los, mas também perceber e respeitar os seus momentos menos bons, apenas porque errar é humano, e as nossas estrelas, por muito extraordinárias que possam parecer, não são mais do que seres humanos a querer dar o seu melhor, mas a errar e falhar tanto como qualquer outro.

Trailer "Assim Nasce uma Estrela"

E não esqueçamos… As grandes contribuições e os talentos autênticos perduram no tempo!

Os Queen continuam a ser uma das maiores bandas de rock de sempre, porque a criatividade, a originalidade, a personalidade e a paixão com que mostraram o seu trabalho ao mundo são intemporais. Também Jack pede a Ally que seja sempre quem ela é e nunca mude por causa do público ou a fama. É desta mesma forma que grandes líderes, livros, ideologias e discursos do passado se mantêm atuais e perduram ao longo dos anos, como referências de talento único e com valor acrescentado para as gerações mais novas.

Será que podemos, com tudo isto, dizer que gerir talentos é uma espécie de “rapsódia” de gestão, uma fórmula única para cada caso, onde podemos usar ferramentas mais clássicas das doutrinas das ciências sociais… e juntar uns trechos e notas de criatividade, inovação e, muitas vezes até, de pura espontaneidade ao gerir as suas “estrelas”?

Ficção à parte, a verdade é que os talentos existem na vida real, no nosso dia a dia e na organização onde trabalhamos. É por isso fundamental que as empresas saibam criar a sua “rapsódia” de gestão de talentos, e proporcionar às suas “estrelas” a rede e suporte necessário para que assim permaneçam, e não entrem em declínio.

Afinal, é de uma boa gestão de pessoas e talentos que se fazem as organizações mais criativas, produtivas e de sucesso.

E você…como está a cuidar dos seus talentos?

Escrito por

Maria João Ceitil

Detentora de uma vasta experiência como Consultora e Formadora nos domínios de Gestão de Recursos Humanos, Gestão da Performance Organizacional e Executive Coach.

Ao nível da formação superior, possui um Mestrado Integrado em Psicologia Clínica pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), um Mestrado em Gestão do Potencial Humano pelo Instituto Superior de Gestão (ISEG) e uma Pós-Graduação em Gestão dos Recursos Humanos, na Perspectiva da Gestão com as Pessoas, pela Universidade Lusófona.

Possui também diversas certificações e formações, nomeadamente a Certificação em Executive Coaching pela Escola Europeia de Coaching de Lisboa, a certificação em Dynamic Coaching pela Go4 Consulting e a Formação Pedagógica Inicial de Formadores pela CEGOC.

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