Agile RH – Simplificar em tempos complexos

Maria João CeitilManaging Director FranklinCovey PT | Head of Integrated Solutions Cegoc

“A capacidade de simplificar significa eliminar o desnecessário para o necessário poder falar”… dizia Hans Hoffman, o artista plástico alemão que se tornou numa das figuras mais importantes do Expressionismo Abstrato. Parece talvez uma verdade La Palisse nos dias de hoje, mas a realidade é que não é assim tão “simples” quanto parece.  Vivemos num mundo complexo, numa forma “estranha” de complexidade. 

A procura incessante de mecanismos de simplificação, agilização, de tornar tudo de mais fácil acesso, mais rápido, mais eficaz, mais inteligente, mais automático… e mais “tudo” (normalmente acompanhado com “menos investimento”) tem provocado uma explosão de novas políticas, novos modelos, novas ferramentas e novos instrumentos em quase todos os domínios da sociedade, da economia e da gestão.

 

 

Os 12 princípios Agile aplicados à Gestão de Pessoas

A parte boa disto é… temos hoje MUITO mais opções!

Para cada desafio, cada problema, cada ideia que nos surge existe certamente uma panóplia de alternativas ao nosso dispor, que nos permite escolher a que melhor nos serve, e melhor responde diretamente ao que necessitamos.

A parte menos boa disto é… temos hoje MUITO mais opções!

Todos os dias surgem novas alternativas, novas ferramentas e novas opções… e todos os dias surgem também novos desafios, novos problemas e novas ideias. Temos hoje a sensação de estarmos em permanente estado de desatualização face ao mercado (ideológico e de negócio), e parece que cada nova solução deixa de ser “nova” num ápice.

Para os profissionais do mundo da Gestão de Pessoas, esta realidade tem originado profundas reflexões sobre os métodos de abordagem.

Por um lado, parece que os processos tradicionais de Gestão de RH estão gradualmente a deixar de responder às mudanças sistemáticas do contexto e das necessidades das organizações; descritivos de função, planos de formação a um ano, modelos standardizados de avaliação de desempenho, entre outros processos, tendem a perder rapidamente a sua adequação às organizações, tornando-se por vezes obsoletos e pouco eficazes. Por outro lado, continuamos a sentir necessidade de processos que permitam a gestão planeada, organizada e estratégica das pessoas e do capital humano das organizações.

Trazemos aqui uma sugestão de abordagem, com base na metodologia Agile, correndo o risco de “complexificar”, trazendo para o mundo da Gestão de Pessoas uma metodologia criada para desenvolvimento de projetos tecnológicos, mas na esperança de ajudar os profissionais de RH a “simplificar” a sua intervenção, e divulgar um modelo assente nos princípios da atualidade, a agilização de processos.

Muito embora o Manifesto Agile (publicado em fevereiro de 2001) esteja claramente direcionado para o desenvolvimento de softwares, esta abordagem tem vindo a evoluir e a ser incorporada por diversas áreas de intervenção, nomeadamente nos RH.

Mais do que uma metodologia de gestão de projetos, o modelo Agile é uma nova forma de pensar e agir, assente no conceito de agilidade, que significa não apenas fazer mais rápido, mas sim evitar o desperdício de fazer mais que o necessário.

 

 

Desafiamo-lo a conhecer os 12 princípios do Manifesto Agile e a sua possível aplicação para os processos de Gestão de Pessoas:

1 - A nossa maior prioridade é satisfazer o cliente, através da entrega adiantada e contínua de software de valor.

GESTÃO DE PESSOAS: Intervenções ágeis focam-se em agregar valor ao cliente, de forma rápida e contínua. O seu cliente interno são os colaboradores, não perca tempo desnecessário e procure dar respostas rápidas!

2 - Aceitar mudanças de requisitos, mesmo no fim do desenvolvimento. Processos ágeis adequam-se a mudanças, para que o cliente possa tirar vantagens competitivas.

GESTÃO DE PESSOAS: A mudança é algo inevitável. Aceite-a como tal, e mantenha-se disponível e flexível para adaptar os seus processos e instrumentos às mudanças organizacionais que vão ocorrendo.

3 - Entregar resultados com frequência, na escala de semanas até meses, com preferência aos períodos mais curtos.

GESTÃO DE PESSOAS: Adote sistemas de feedback contínuos, monitorize e acompanhe com frequência. Os processos de RH devem estimular a comunicação permanente. Crie dashboards de envio frequente de resultados, partilhe conquistas, potencie o acompanhamento das pessoas.

4 - Pessoas relacionadas a negócios e developers devem trabalhar em conjunto e diariamente, durante todo o curso do projeto.

GESTÃO DE PESSOAS: “Abra” as portas dos Recursos Humanos. Integre nas equipas elementos de outras áreas e promova equipas multidisciplinares para pensar e implementar processos de RH.

5 - Os projetos devem ser criados em torno de indivíduos motivados. Dê-lhes o ambiente e o apoio que necessitam, e confiar que farão seu trabalho.

GESTÃO DE PESSOAS: Promova a autonomia da sua equipa. Certamente a sua equipa de RH tem pessoas com ideias fantásticas que podem acrescentar um valor significativo aos processos de Gestão de Pessoas. Confie no potencial das suas pessoas e “saia” por vezes de cena, para que possam desenvolver as suas ideias.

6 - O Método mais eficiente e eficaz de transmitir informações para, e dentro de uma equipa, é através de uma conversa cara a cara.

GESTÃO DE PESSOAS: Abandone progressivamente os processos burocráticos de feedback. Uma conversa de 5 minutos pode ser mais eficaz do que uma ficha anual de avaliação de performance. Implemente modelos de avaliação de desempenho centrados em “real time” feedback.

7 - Software funcional é a principal medida de progresso do projeto.

GESTÃO DE PESSOAS: Analise a real funcionalidade dos instrumentos que desenvolve. Pergunte-se “este processo serve os RH ou a organização?” Abandone todos os processos que não tenham funcionalidade para o seu cliente (colaboradores).

8 - Processos ágeis promovem um ambiente sustentável. Os patrocinadores, developers e utilizadores, devem ser capazes de manter indefinidamente, passos constantes.

GESTÃO DE PESSOAS: Apressar e esgotar as equipas não aumenta a agilidade e frequentemente leva à desmotivação e à queda de qualidade no trabalho. No modelo Ágil, todos devem trabalhar focados e de forma rápida, mas num ritmo sustentável. Esteja atento aos níveis de energia da sua equipa e não os desafie em excesso.

9 - Contínua atenção à excelência técnica e bom design, aumenta a agilidade.

GESTÃO DE PESSOAS: A imagem também conta e é importante que a documentação que produz tenha em conta a sua “atratividade” visual. O seus manuais de RH podem ser tecnicamente brilhantes, mas se acompanhados de uma imagem “fraca” perderão boa parte do impacto que pretende.

10 - Simplicidade: a arte de maximizar a quantidade de trabalho que não precisou ser feito.

GESTÃO DE PESSOAS: Mantenha o foco no que agrega valor ao cliente e seja implacável com atividades que não agregam valor. Se não vai ser útil, mesmo que seja lindo, elimine. Analise atentamente os seus processos de RH e “deite fora” tudo o que não traz valor aos seus clientes.

11 - As melhores arquiteturas, requisitos e designs emergem de equipes auto-organizáveis.

GESTÃO DE PESSOAS: Promova equipas auto-organizadas. Deixe que eles decidam como o trabalho vai ser distribuído, quem vai fazer o quê, e resolvam desafios e conflitos entre eles. A auto-organização vai potenciar mais autonomia, mas também mais responsabilidade, que promovem a motivação e, consequentemente, melhores resultados.

12 - Em intervalos regulares, a equipa reflete sobre como tornar-se mais eficaz, em seguida, ajusta o seu comportamento em conformidade.

GESTÃO DE PESSOAS: Defina a periodicidade de reuniões de análise de eficácia. Nestas reuniões, oriente a reflexão para “como podemos ser mais eficazes”, em vez de “o que aconteceu até agora”.

 

Em suma, seja ágil e desenvolva processos de Gestão de Pessoas focados em:

  • Estratégia em vez de atividades operacionais
  • Visão longo prazo em detrimento de tarefas diárias
  • Transformação digital em vez de processos burocráticos
  • Experiência do colaborador além do mero cumprimento de requisitos

 

Formação CEGOC recomendada: Agile HR

Escrito por

Maria João Ceitil

Detentora de uma vasta experiência como Consultora e Formadora nos domínios de Gestão de Recursos Humanos, Gestão da Performance Organizacional e Executive Coach.

Ao nível da formação superior, possui um Mestrado Integrado em Psicologia Clínica pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), um Mestrado em Gestão do Potencial Humano pelo Instituto Superior de Gestão (ISEG) e uma Pós-Graduação em Gestão dos Recursos Humanos, na Perspectiva da Gestão com as Pessoas, pela Universidade Lusófona.

Possui também diversas certificações e formações, nomeadamente a Certificação em Executive Coaching pela Escola Europeia de Coaching de Lisboa, a certificação em Dynamic Coaching pela Go4 Consulting e a Formação Pedagógica Inicial de Formadores pela CEGOC.

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