Onde foi parar o potencial estratégico da abordagem Design Thinking?

Alina OliveiraConsultora, Formadora e Coach

Porque será que a abordagem Design Thinking (DT) não é entendida, nem utilizada pelas nossas organizações, pelo seu potencial estratégico?

Potencial estratégico do Design Thinking

O potencial estratégico do Design Thinking está estritamente relacionado com a capacidade das organizações de entenderem e fazerem uso da abordagem do DT para além do foco herdado pelo Design (criação de novos produtos e serviços), e de ultrapassar a última tendência de adotar os processos seguidos pela abordagem do DT para gerir a criatividade e o desenvolvimento de processos de gestão. Ainda que o DT pode e deve ser utilizado para estes dois fins mencionados em cima, os contextos, problemáticas complexas e dilemas que as organizações enfrentam hoje, necessitam de contributos que construam a sua resiliência. A abordagem DT pode e deve ter esse efeito.

Design-Thinking_Blog

Na última década temos assistido a uma procura crescente da abordagem Design Thinking, e paralelamente enfrentamos contextos incertos e complexos que fazem uso de abordagens menos tradicionais. No entanto, a procura crescente tem levado a um entendimento simplista da abordagem DT, essencialmente tida como:

  • um processo de inovação (e não a ser utilizada em processos de inovação), e
  • uso quase exclusivo de geração de novos produtos e serviços num processo centrado nas pessoas (i.e. Human Center Design).

Estes entendimentos têm em muito pouca conta o valor estratégico da abordagem DT.

 

Mas de onde vem a abordagem Design Thinking (DT)?

Apesar de estar em desenvolvimento e de ser responsável por acesas discussões desde o início dos anos 80 na comunidade científica, a abordagem foi tornada popular pela empresa Norte Americana de consultoria de produtos e serviços - IDEO, em meados da primeira década de 2000. Tendo a abordagem DT vindo a ser aplicada no âmago de algumas organizações pioneiras (Apple ou Google, por exemplo), tem atraído nos últimos anos, alguma curiosidade quanto à sua eficácia e potencial.

 

No âmago do Design Thinking estão as problemáticas complexas e incertezas

Atualmente, os problemas ou desafios têm passado de bem formulados e identificados, para pouco definidos e pouco específicos. A indefinição impõe dilemas de decisão nas nossas organizações. Os contextos incertos com que nos deparamos (sociais, de mercado, tecnológicos, geopolíticos, etc.), com problemáticas que abrangem diversas necessidades e com níveis de complexidade crescente, têm posto em causa abordagens lineares para ir ao encontro de respostas, e têm incentivado a procura de outra(s) tipologia(s) de abordagem que tende(m) a conviver confortavelmente com a complexidade, a incerteza e ajudam no trato de dilemas. Uma abordagem “mais à designé uma opção que tem revelado resultados na procura de soluções alternativas, tornando as nossas organizações mais resilientes e adaptáveis às constantes mudanças, tanto externas como internas.

 

Desafiar a forma mais tradicionalista de resolver problemas

O Design Thinking traduz-nos essa abordagem “mais à design”, desafiando a forma mais tradicionalista de resolver problemas ao estruturar processos que utilizam em simultâneo a criatividade e a lógica. Põe em cima da mesa, numa linguagem descodificada e não-hermética, outra forma de abordar problemáticas, que não conseguem ser solucionadas dentro da visão estabelecida de “resolução de problemas”. Isto porque a abordagem DT põe de parte uma estratégia focada no problema (abordagens de origem cientifica), epassa a uma estratégia focada na criação de soluções. O foco está num processo experimental, inclusivo, participativo e colaborativo, onde as pessoas procuram aprender a natureza das problemáticas e dilema(s) pela ação, até se encontrar a solução aceitável ou sistema de soluções, que facilitam a decisão e possibilitam a atuação.

 

A mais-valia estratégica da abordagem Design Thinking

A abordagem DT transpõe um comportamento, implementa um pensamento, desenvolve capacidades e realça características que fortalecem as organizações a dar resposta aos desafios atuais, ao apoiar o seu tecido social no desenho de sistemas de transição e criação de mecanismos de transição de uma cultura linear para uma cultura sistémica que combina a criatividade e a análise. A abordagem DT gera uma cultura que apoia as organizações na adaptação dos seus sistemas, processos e outputs a contextos complexos e futuros incertos, dando possibilidade às pessoas de criarem elas próprias a resiliência das suas organizações (de dentro para fora).

Escrito por

Alina Oliveira

Autora do livro “ Resiliência para Principiantes” – ed. Sílabo, 2010.Sou formadora e consultora nas áreas da gestão e liderança de equipas, resiliência, comunicação e gestão de conflitos, gestão do tempo, resolução de problemas, relações cliente/fornecedor.Um dos temas que mais me apaixona é a Resiliência, o que me levou a escrever um livro sobre essa temática: “Resiliência para Principiantes”.
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